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domingo, 18 de março de 2012

Crianças do Estado


A esquerda prefere um eleitorado imaturo e medroso, mais interessado em proteção estatal do que na liberdade de procurar oportunidades.
Uma coisa pode ser dita com certeza sobre a infância: ela termina. As realidades que temos sido persuadidos a ignorar estão se impondo a nós.

Não chega a ser uma surpresa o quanto o Grande Governo trata seu povo como crianças, mas é um tanto deprimente que o público tenha crescido tão habituado a tal tratamento.
Dependência é essencialmente infantilidade. Independência e responsabilidade são componentes fundamentais tanto da liberdade quanto da maturidade. Uma nação de assistência social e “bailouts” [1] é uma nação onde a nenhuma criança é permitido cair e se machucar por sua própria conta. Você não pode ter empreendimento sem risco e você não pode ter risco sem consequências. Calcular os riscos é tarefa de adultos.

O governo nos trata como crianças em questões grandes e pequenas. Para dar um pequeno exemplo, considere a saga da “polícia do almoço” na Carolina do Norte [2]. Ao menos dois pais surgiram com histórias de agentes federais inspecionando as lancheiras de seus filhos pequenos, declarando ser o lanche delas deficiente para nutrição e obrigando os pais a pagar pela merenda escolar aprovada pelo governo em lugar do lanche. Uma das crianças teve em mãos um memorando assinado pelo diretor da escola, discutindo as exigências da USDA [3] por lancheiras com um conteúdo aceitável e claramente declarando que “a estudantes que não trouxerem uma merenda saudável serão oferecidas as partes faltantes, o que pode resultar em uma taxa cobrada pelo refeitório”.

Essencialmente, isso quer dizer tratar os pais como se eles fossem crianças caprichosas. Eles não são aptos a decidirem o que seus filhos podem ou não comer, então a Mamãe Estado assumirá a tarefa.

Aos cidadãos – crianças congregadas na “creche católica” não será permitido colocar seus pequenos devaneios religiosos à frente da sabedoria da Mamãe Estado em matéria de contracepção. Quando os católicos fizeram algazarra na sala de aula, a solução do vovô Obama foi declarar que os anticoncepcionais eram um presente das companhias de seguro. Isto supostamente aquietaria o clamor, porque eles não estariam pagando pelos “presentinhos” para o controle de natalidade. É preciso ter a mente de uma criancinha para aceitar este tipo de raciocínio.

Quando lhe foi solicitada a apresentação de um orçamento para o próximo ano fiscal, bem como previsões para o futuro financeiro dos Estados Unidos, o presidente Barack Obama apresentou um plano com uma pilha de trilhões de dólares em déficits, sem menção a dívida nacional. Só uma nação de crianças estaria disposta a permitir-lhe fugir com raciocínio tão tipicamente adolescente como “o amanhã nunca virá”. A situação de um governo falido no piloto automático rumo a 20 trilhões de dólares em dívida é fundamentalmente infantil. Somente adultos pensam sobre consequências, ou sobre como pagar sua própria vida.

As desculpas do presidente são o tipo de nonsense que só soam razoáveis a ouvidos muito jovens. Todos os seus problemas foram causados por seu predecessor, há muito afastado. Nada é sua culpa, em qualquer assunto. Na última vez que ele ultrapassou o teto da dívida, ele prometeu que não faria isso novamente... mas agora parece que um novo aumento do teto da dívida será necessário antes da eleição de 2012.

Nós aceitamos maciços e insustentáveis déficits em tempo de paz como a “nova normalidade” porque os acólitos do Grande Governo não querem discutir abertamente o nível de impostos que seria necessário para sustentar sua utopia. A fantasia que algum vago grupo de ricaços poderia pagar por tudo isso, se eles estiverem corretamente interessados em “pagar por sua parte”, é um conto de fadas profundamente infantil. Você pode provar que isso é impossível com matemática básica, mas isto não funciona melhor do que qualquer tentativa de usar matemática básica para explicar a uma criancinha histérica porque você não pode se dar ao luxo de comprar o brinquedo que ele mais quer. Criancinhas reunidas ao redor da árvore de natal não perguntam ao papai e à mamãe se eles foram sábios em estourar o cartão de crédito da família para comprar todos aqueles presentes.

O discurso de “falha da liberdade” de Obama é o tipo de história útil para assustar crianças com obediência. Uma nação segura de si tem pouca paciência com um presidente que decide quais companhias deveriam “ganhar” ou “perder”, que explica aos pequeninos quanta ambição eles deveriam ter permissão de conservar, e nos oferece uma escolha entre adotar um planejamento central hiper-regulado ou ser perseguido por lobos na tundra gelada do mercado livre.

A esquerda prefere um eleitorado imaturo e medroso, mais interessado em proteção estatal do que na liberdade de procurar oportunidades. Um mecanismo de controle baseado na inveja só funciona nessas condições. Quem respeita menos os direitos de propriedade dos outros que uma criança desamparada? Quem poderia estar mais ansioso em ouvir falar sobre o que lhe é “de direito”, ao invés de sobre o que ele tem feito por merecer?

Não é por acaso que a cultura popular está passando a venerar a adolescência perpétua. Estudantes de 30 anos e homens de 40 anos vivendo na casa da mamãe estão se tornado cada vez mais comuns. A lei de saúde pública de Barack Obama, o “Obamacare”, recebeu um ultraje relativamente pequeno ao considerar que pessoas de 26 anos são oficialmente “crianças”. Casamento e paternidade estão sendo atacados de várias maneiras. O grande projeto para fazer a maioria adotar hábitos que as antigas gerações teriam considerado vergonhosos está quase completo. Quanto a isso, a própria vergonha tem sido largamente abolida. Nós ouvimos infinitamente que se sentir bem é a maior virtude e que só pessoas reprimidas perderiam tempo sentido vergonhas delas mesmas, qualquer que seja o motivo. Costumávamos ter uma palavra diferente para pessoas assim: adultos.

Uma das características definidoras dos adultos é seu desejo de ser responsável por suas crianças. Somos os guardiões do futuro, que nossos filhos herdarão. Mas os garotos de hoje já nascem com quase 50 mil dólares em dívidas nas costas. Nós estamos contraindo empréstimos que nunca seremos capazes de pagar. Nós escolhemos o caminho de atrelá-los com uma dívida que 100% do dinheiro público será usado apenas para financiar os pagamentos dos juros. Este não é o comportamento de uma nação adulta.

Uma coisa pode ser dita com certeza sobre a infância: ela termina. As realidades que temos sido persuadidos a ignorar estão se impondo a nós. Confrontado com um gráfico que mostrava nosso débito nacional subindo a uma estonteante altura por volta de 2075, o secretário do tesouro Tim Geithner resmungou que o gráfico poderia muito bem ter incluído projeções para o ano 3000. O presidente da comissão de orçamento da Câmara, Paul Ryan, replicou que não havia condições de levar as coisas adiante, porque “a economia, segundo o CBO [4], entrará em colapso por volta de 2027, neste ritmo”. Isso soou como um adulto repreendendo severamente uma criança com nariz sujo. Nós não sobreviveremos por mais quatro anos de “liderança” de crianças de nariz sujo, adequadas apenas para governar infantilizados.

Notas do tradutor:

[1] No original a palavra é “bailout” (de bail: fiança, garantia) que, em economia e finanças, significa uma injeção de liquidez dada a uma entidade (empresa ou banco) falida ou próxima da falência, a fim de que possa honrar seus compromissos de curto prazo. Em geral, os bailouts são dados pelos governos ou por consórcios de investidores que, em troca da injeção de fundos, assumem o controle da entidade.

[2] Para maiores informações sobre esse caso ver o seguinte link:http://www.carolinajournal.com/exclusives/display_exclusive.html?id=8762

[3] USDA é a sigla para United States Department of Agriculture, órgão público que cuida da agricultura e tenta garantir uma boa alimentação ao povo americano.

[4] CBO é a sigla para Congressional Budget Office. Trata-se de um órgão do poder legislativo dos Estados Unidos que fornece dados econômicos para o Congresso.


John Hayward é colunista do Human Events e autor do recentemente publicado Doctor Zero: Year One.

Tradução: Jorge Nobre, estudante de Letras da UnB.
Tradução publicada no blog da Juventude Conservadora da UNB.

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